Minhas casas

Nathalia Nasser
2 min readOct 2, 2021

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A jornada de se mudar pra longe de casa implica encontrar um novo lar numa atmosfera desconhecida, muitas vezes por inteiro. E pra muito longe dos romantismos da classe média alta moderna que se encontra em si depois de dois anos sabáticos no oriente, minha escolha nunca foi baseada nessa possibilidade. Quando a maior parte dos seus sonhos precisa ser sempre adiada, o gosto de começar a realizá-los é diferente.

Decidir ficar longe pessoalmente nunca foi um desafio, porque a grande sorte de uma família que se transforma em uma máquina de suporte em segundos eu tenho. Dessa sorte, ainda bem, eu não escapei. Sair de casa sempre foi opcional, e guiado por um discurso encorajador – talvez até superprotetor. “Só faça quando puder e quiser – você não precisa passar pela frustração de ter que voltar só porque deu um passo maior do que precisava”, minha mãe sempre disse.

No decorrer dos últimos dois anos, me deparei com a infinitude de privilégios, sorte, planejamento e esforço pessoal que eu consegui passar a colecionar a custo de muito, muito trabalho nos anos da minha vida em que a maioria das pessoas a minha volta estavam só entendendo seu lugar no mundo.

A decisão de construir uma outra casa em outro lugar, mesmo que por breve período a princípio, me devolveu uma energia antiga que quase foi embora por completo com o decorrer dos anos. Hoje, vendo o mundo como ele é, sem lentes rosas e sem falso romantismo, aprendi a dar sentido – e não valor – pra tudo o que quero fazer. Prometi a mim mesma não me cegar com lentes que não são minhas, que relativizam experiências e descartam questões reais para dar um passo que, pra mim, é tão grande.

E dentro de uma casca de sentidos que eu mesma criei, decido alguns dias me encontrar no cotidiano. E com muita sinceridade, digo: alguns dias. Em outros, ficar trancada em casa e ouvir a língua estrangeira só pela janela continua sendo a melhor opção pra uma pessoa intrinsicamente introvertida. Poder romantizar a minha vida pra mim mesma sem ignorar o mundo real é talvez minha grande realização.

Três meses em casa, três meses longe. Aprendi a comemorar sempre ter para onde e para quem voltar, onde quer que eu esteja. Por outro lado, ainda não aprendi a gerenciar sempre ter que me despedir, independente de onde eu esteja partindo. Ter de sempre deixar alguém pra trás não há de ser algo acostumável.

Nesse começo de vai e vem, que espero que dure por toda a minha vida, tenho me encontrado mais confusa e medrosa do que jamais fui; mas com mais confiança nas pessoas que me cruzam e consciência das minhas sortes como nunca tive.

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Nathalia Nasser

Journalist. Full time britpop enthusiast. I like to learn some languages.